Acompanho os canais ESPN desde 2002,
quando nem possuía condições de assinar um plano de TV a cabo. Assistia as
transmissões na casa de amigos e familiares. Foi onde aprendi a admirar os
craques da NBA da época, a aprender sobre o futebol americano e a entender que
não existia bom futebol apenas dentro do Brasil. Desde que finalmente passei a
assistir a ESPN na minha casa (lá pelos idos de 2005), sempre acompanhei TODA
transmissão esportiva e, obviamente, acompanhei a transição que houve quando a
ESPN Brasil assumiu, no início de 2006, o canal que era transmitido em
Português diretamente da sede norte-americana em Bristol, Connecticut. Apesar
de gostar do trabalho da equipe da ESPN Brasil, gostaria de fazer alguns comentários
sobre a programação da ESPN brasileira que, na minha opinião, é a melhor da
televisão brasileira, mas vem cometendo alguns deslizes desde então.
Minha
maior reclamação é sobre o excesso de transmissões de futebol na ESPN. Não é de
hoje que o número de transmissões de torneios do futebol europeu (sejam de
clubes ou de seleções) aumentou de forma significativa, fato que ficou mais
claro ainda com a inclusão dos campeonatos da Segunda Divisão da Inglaterra e
da Argentina na temporada 2011-2012. Não são raras as vezes em que esse aumento
de transmissões de jogos atrapalham a exibição de partidas ao vivo de outros
esportes. Como exemplo mais recente, cito as semifinais da edição 2011-2012 da Copa
Heineken de Rugby, que foram exibidas ao vivo apenas no canal ESPN HD, sendo
exibidos em VT na ESPN pois, no mesmo instante, havia exibições de jogos do
futebol europeu. Com todo o respeito, mas a ESPN transmitiu boa parte dos jogos
da Copa Heineken ao vivo em seu canal principal desde a fase preliminar; então por
que em um dos momentos mais importantes do torneio, a exibição ao vivo fica
“escondida” na ESPN HD? E quando digo “escondida”, me refiro ao fato de que o
sinal em alta definição não chega nem a 30% dos assinantes da ESPN (e nem a 30%
do total de assinantes de TV a cabo do Brasil, visto que o custo mensal para
manter este serviço, restrito apenas às cidade mais populosas do País, ainda é
alto), o que significa que mais de 70% dos assinantes da ESPN não têm a chance
de ver a partida ao vivo.
Mais
um exemplo é a exibição da Copa do Brasil no canal ESPN em horários que
prejudicam os fãs da MLB e da NBA. Digo isso porque ambas as ligas possuem
transmissões às quartas-feiras e, nos dias em que há Copa do Brasil, esse jogos
são automaticamente “escondidos” na ESPN HD, o que claramente desagrada os fãs
dessas ligas; basta ver os comentários via Mural, Twitter e Facebook durante a
exibição desses jogos. (A NBA possui uma grande base de fãs vinda dos anos 80 e
90, mas isso é simplesmente ignorado pela ESPN brasileira.) Até mesmo um jogo
de playoff da NBA (New York Knicks x Miami Heat, exibido ontem, 9 de maio, às
20h) não escapou desse fato. Entenderia a situação se a Copa do Brasil (que é
um torneio importante e que eu também acompanho) fosse de transmissão exclusiva
da ESPN, mas considerando que não é, vejo essa situação como absurda.
Só
não é mais absurda do que a não exibição ao vivo dos jogos da NBA e da MLB (ou
de qualquer outro esporte) na ESPN por causa dos VTs noturnos de jogos da UEFA
Champions League, incluindo jogos que foram exibidos NO MESMO CANAL e que foram
reexibidos poucas horas depois. Como se a cobertura da UCL na ESPN já não fosse
suficientemente grande (basta ver o “Sportscenter” brasileiro, que chega a
dedicar mais de 80% de seu tempo apenas com futebol)... Muitas vezes, a Rede
Globo foi criticada (e com muita razão) pela ESPN brasileira por promover a “monocultura
esportiva”. Mas, infelizmente, às vezes a própria ESPN brasileira trilha pelo
mesmo caminho em sua programação.
O
site da ESPN Brasil ( http://www.espn.com.br ), que deveria ser uma
referência na cobertura de esportes em língua portuguesa, na verdade, é
exatamente o contrário. Não são raras as vezes em que há notícias com erros grosseiros
de Português e, principalmente, com informações vagas e, algumas vezes,
incorretas. Curiosamente, esses erros ocorrem com mais frequência em matérias
que não são ligadas ao futebol como, por exemplo, basquete (mais
especificamente, sobre a NBA), beisebol (MLB) e hóquei no gelo (NHL). Isso
quando há alguma notícia sobre esses esportes no site.
Outra
situação que eu questiono é o fato do programa “The Book Is On The Table” (que
é exibido às sextas-feiras e faz um resumo semanal dos principais resultados e
notícias das grandes ligas esportivas norte-americanas – MLB, NBA, NFL e, mais
recentemente, a NHL) ter apenas meia hora de duração, tempo que claramente é
insuficiente para abordar todos os principais assuntos da semana de forma
tranquila e sem “correria”, como tem se visto em muitas edições nos últimos 2
anos. A situação é mais grave ainda pois, na minha opinião, a versão brasileira
do “Sportscenter” é extremamente deficiente em termos de cobertura não apenas
dessas ligas mas de qualquer outro esporte que não se chama “futebol”, cenário
que apenas piorou nos últimos anos com a inclusão da Copa do Brasil na
programação dos canais ESPN. E enquanto outros programas futebolísticos como
“Fora de Jogo” (sobre futebol europeu) e “Futebol no Mundo” ganham mais espaço
na programação, a cobertura dos outros esportes fica cada vez mais fraca.
Aqui, é importante deixar claro que
não faço uma crítica ao trabalho de profissionais como Everaldo Marques, Ari
Aguiar, Rômulo Mendonça, Paulo Antunes, Eduardo Agra, José Roberto Lux e Thiago
Simões: todos eles, a meu ver, fazem um ótimo trabalho cobrindo as grandes
ligas dos EUA e, eventualmente, outros esportes (incluindo futebol). Apenas
questiono o “modus operandi” da ESPN brasileira, que desde 2006 (quando assumiu
a transmissão em Português do canal ESPN, que era transmitido para o Brasil
diretamente da sede norte-americana em Bristol) dá cada vez mais espaço para as
transmissões de futebol, deixando de exibir eventos importantes de outros
esportes para o grande público, seja não exibindo jogos, seja “escondendo-os”
no canal ESPN HD.
Para terminar meus comentários: pode
não parecer, mas eu gosto de futebol. Seria muita pretensão da minha parte
querer negar o fato de que o futebol é o esporte número 1 do Brasil. Da mesma
forma, seria um absurdo querer que a ESPN voltasse ao patamar pré-2006, onde
havia poucas transmissões de futebol. Entendo que futebol é o esporte que mais
chama audiência neste País e não culpo a cúpula da ESPN brasileira por querer
lucrar com isso. Gosto do trabalho de muitos dos profissionais ligados ao
futebol (Leonardo Bertozzi, Gustavo Hofman, Gian Oddi, Paulo Vinícius Coelho,
entre outros) e acho que nenhuma emissora esportiva tem uma equipe tão
competente como a da ESPN no Brasil. Apenas acho que a ultra exposição do
futebol dentro da programação não é um bom caminho a ser seguido pela emissora
que se diz a “Líder Mundial em Esportes” (e, que fique claro, ESPORTES no
plural). E está cada vez mais claro de que eu não sou uma voz isolada quanto a
essas reclamações que faço: basta olhar os comentários via site da ESPN Brasil, Twitter e Facebook. Podem ser poucos
comentários, mas imagino que sejam suficientes para, pelo menos, considerar a
hipótese de dar mais espaço para o “The Book...” na programação.
Atenciosamente,
de um fã de esportes.