quinta-feira, 10 de maio de 2012

Carta aberta à ESPN Brasil



            Acompanho os canais ESPN desde 2002, quando nem possuía condições de assinar um plano de TV a cabo. Assistia as transmissões na casa de amigos e familiares. Foi onde aprendi a admirar os craques da NBA da época, a aprender sobre o futebol americano e a entender que não existia bom futebol apenas dentro do Brasil. Desde que finalmente passei a assistir a ESPN na minha casa (lá pelos idos de 2005), sempre acompanhei TODA transmissão esportiva e, obviamente, acompanhei a transição que houve quando a ESPN Brasil assumiu, no início de 2006, o canal que era transmitido em Português diretamente da sede norte-americana em Bristol, Connecticut. Apesar de gostar do trabalho da equipe da ESPN Brasil, gostaria de fazer alguns comentários sobre a programação da ESPN brasileira que, na minha opinião, é a melhor da televisão brasileira, mas vem cometendo alguns deslizes desde então.

Minha maior reclamação é sobre o excesso de transmissões de futebol na ESPN. Não é de hoje que o número de transmissões de torneios do futebol europeu (sejam de clubes ou de seleções) aumentou de forma significativa, fato que ficou mais claro ainda com a inclusão dos campeonatos da Segunda Divisão da Inglaterra e da Argentina na temporada 2011-2012. Não são raras as vezes em que esse aumento de transmissões de jogos atrapalham a exibição de partidas ao vivo de outros esportes. Como exemplo mais recente, cito as semifinais da edição 2011-2012 da Copa Heineken de Rugby, que foram exibidas ao vivo apenas no canal ESPN HD, sendo exibidos em VT na ESPN pois, no mesmo instante, havia exibições de jogos do futebol europeu. Com todo o respeito, mas a ESPN transmitiu boa parte dos jogos da Copa Heineken ao vivo em seu canal principal desde a fase preliminar; então por que em um dos momentos mais importantes do torneio, a exibição ao vivo fica “escondida” na ESPN HD? E quando digo “escondida”, me refiro ao fato de que o sinal em alta definição não chega nem a 30% dos assinantes da ESPN (e nem a 30% do total de assinantes de TV a cabo do Brasil, visto que o custo mensal para manter este serviço, restrito apenas às cidade mais populosas do País, ainda é alto), o que significa que mais de 70% dos assinantes da ESPN não têm a chance de ver a partida ao vivo.

Mais um exemplo é a exibição da Copa do Brasil no canal ESPN em horários que prejudicam os fãs da MLB e da NBA. Digo isso porque ambas as ligas possuem transmissões às quartas-feiras e, nos dias em que há Copa do Brasil, esse jogos são automaticamente “escondidos” na ESPN HD, o que claramente desagrada os fãs dessas ligas; basta ver os comentários via Mural, Twitter e Facebook durante a exibição desses jogos. (A NBA possui uma grande base de fãs vinda dos anos 80 e 90, mas isso é simplesmente ignorado pela ESPN brasileira.) Até mesmo um jogo de playoff da NBA (New York Knicks x Miami Heat, exibido ontem, 9 de maio, às 20h) não escapou desse fato. Entenderia a situação se a Copa do Brasil (que é um torneio importante e que eu também acompanho) fosse de transmissão exclusiva da ESPN, mas considerando que não é, vejo essa situação como absurda.

Só não é mais absurda do que a não exibição ao vivo dos jogos da NBA e da MLB (ou de qualquer outro esporte) na ESPN por causa dos VTs noturnos de jogos da UEFA Champions League, incluindo jogos que foram exibidos NO MESMO CANAL e que foram reexibidos poucas horas depois. Como se a cobertura da UCL na ESPN já não fosse suficientemente grande (basta ver o “Sportscenter” brasileiro, que chega a dedicar mais de 80% de seu tempo apenas com futebol)... Muitas vezes, a Rede Globo foi criticada (e com muita razão) pela ESPN brasileira por promover a “monocultura esportiva”. Mas, infelizmente, às vezes a própria ESPN brasileira trilha pelo mesmo caminho em sua programação.

O site da ESPN Brasil ( http://www.espn.com.br ), que deveria ser uma referência na cobertura de esportes em língua portuguesa, na verdade, é exatamente o contrário. Não são raras as vezes em que há notícias com erros grosseiros de Português e, principalmente, com informações vagas e, algumas vezes, incorretas. Curiosamente, esses erros ocorrem com mais frequência em matérias que não são ligadas ao futebol como, por exemplo, basquete (mais especificamente, sobre a NBA), beisebol (MLB) e hóquei no gelo (NHL). Isso quando há alguma notícia sobre esses esportes no site.

Outra situação que eu questiono é o fato do programa “The Book Is On The Table” (que é exibido às sextas-feiras e faz um resumo semanal dos principais resultados e notícias das grandes ligas esportivas norte-americanas – MLB, NBA, NFL e, mais recentemente, a NHL) ter apenas meia hora de duração, tempo que claramente é insuficiente para abordar todos os principais assuntos da semana de forma tranquila e sem “correria”, como tem se visto em muitas edições nos últimos 2 anos. A situação é mais grave ainda pois, na minha opinião, a versão brasileira do “Sportscenter” é extremamente deficiente em termos de cobertura não apenas dessas ligas mas de qualquer outro esporte que não se chama “futebol”, cenário que apenas piorou nos últimos anos com a inclusão da Copa do Brasil na programação dos canais ESPN. E enquanto outros programas futebolísticos como “Fora de Jogo” (sobre futebol europeu) e “Futebol no Mundo” ganham mais espaço na programação, a cobertura dos outros esportes fica cada vez mais fraca.

            Aqui, é importante deixar claro que não faço uma crítica ao trabalho de profissionais como Everaldo Marques, Ari Aguiar, Rômulo Mendonça, Paulo Antunes, Eduardo Agra, José Roberto Lux e Thiago Simões: todos eles, a meu ver, fazem um ótimo trabalho cobrindo as grandes ligas dos EUA e, eventualmente, outros esportes (incluindo futebol). Apenas questiono o “modus operandi” da ESPN brasileira, que desde 2006 (quando assumiu a transmissão em Português do canal ESPN, que era transmitido para o Brasil diretamente da sede norte-americana em Bristol) dá cada vez mais espaço para as transmissões de futebol, deixando de exibir eventos importantes de outros esportes para o grande público, seja não exibindo jogos, seja “escondendo-os” no canal ESPN HD.

            Para terminar meus comentários: pode não parecer, mas eu gosto de futebol. Seria muita pretensão da minha parte querer negar o fato de que o futebol é o esporte número 1 do Brasil. Da mesma forma, seria um absurdo querer que a ESPN voltasse ao patamar pré-2006, onde havia poucas transmissões de futebol. Entendo que futebol é o esporte que mais chama audiência neste País e não culpo a cúpula da ESPN brasileira por querer lucrar com isso. Gosto do trabalho de muitos dos profissionais ligados ao futebol (Leonardo Bertozzi, Gustavo Hofman, Gian Oddi, Paulo Vinícius Coelho, entre outros) e acho que nenhuma emissora esportiva tem uma equipe tão competente como a da ESPN no Brasil. Apenas acho que a ultra exposição do futebol dentro da programação não é um bom caminho a ser seguido pela emissora que se diz a “Líder Mundial em Esportes” (e, que fique claro, ESPORTES no plural). E está cada vez mais claro de que eu não sou uma voz isolada quanto a essas reclamações que faço: basta olhar os comentários via site da ESPN Brasil, Twitter e Facebook. Podem ser poucos comentários, mas imagino que sejam suficientes para, pelo menos, considerar a hipótese de dar mais espaço para o “The Book...” na programação.
           
Atenciosamente, de um fã de esportes.