segunda-feira, 5 de março de 2012

[ESPORTES] O "Bountygate" da NFL

Após um bom tempo fora do ar, estou de volta. Não que eu tenha desistido de postar alguma coisa, mas é que o tempo com o final do Doutorado e outras coisas se tornaram um impedimento para que eu continuasse com as postagens. Mas pretendo escrever sobre qualquer coisa com mais regularidade daqui pra frente. E pra marcar esse retorno, quero escrever uma ou duas palavras sobre o escândalo que foi revelado na última sexta-feira, 2 de março, pela National Football League (a liga de futebol americano dos EUA), representada pelo seu comissário Roger Goodell.

Segundo a NFL, o coordenador defensivo Gregg Williams (atualmente no St. Louis Rams) comandou um esquema de premiações paralelas para jogadores de defesa comandados por ele e que machucassem os adversários nas partidas. E quando falo machucar, falo de tirar do jogo mesmo! A liga afirma que o "prêmio" para cada jogador adversário fora da partida era de US$ 1500,00 e, se o jogador saísse carregado pelo carrinho, o "prêmio" seria de US$ 1000,00. As denúncias gravíssimas, resultado da investigação de três temporadas (de 2009 a 2011), remetem ao período no qual Williams era parte da comissão técnica do New Orleans Saints, time que foi o campeão do Super Bowl (a final da NFL) em 2009.

A investigação começou justamente após a temporada campeã dos Saints, quando quarterbacks como (os já aposentados) Brett Favre e Kurt Warner sofreram lesões graves após sofrerem pancadas fortes dos defensores dos Saints durante jogos dos playoffs contra Minnesota Vikings e Arizona Cardinals, respectivos times dos jogadores citados. Descobriu-se que um número entre 22 a 27 jogadores de defesa dos Saints, além do próprio Williams, participavam do esquema de "incentivos" (daí o nome bounty system, como está sendo chamado o esquema) nas temporadas de 2009, 2010 e 2011, o que pelas regras da NFL, é totalmente ilegal (pois eram bonificações fora do contrato dos jogadores, o que fere as regras do teto salarial da liga) - além de absurdamente antiético, pois ameaçou a integridade física de outros jogadores. E tudo isso com a conivência do técnico Sean Payton e do gerente-geral da franquia, Mickey Loomis (que, aparentemente, sabiam da situação, mas não fizeram nada para interompê-la). Estima-se que nos 3 anos do esquema, aproximadamente US$ 50 mil foram arrecadados "por fora".

Na mesma sexta-feira do anúncio oficial da liga sobre o escândalo, Williams admitiu e pediu desculpas pelo "terrível erro que cometeu". Além disso, o jornal Washington Post divulgou uma reportagem na qual jogadores do Washington Redskins afirmam que o bounty system também foi aplicado por Williams quando o mesmo era coordenador defensivo do time, em 2006 - o que levou Tony Dungy (técnico do Indianapolis Colts em 2006, quando foi campeão do Super Bowl, e atualmente, comentarista da NFL na emissora CBS) a sugerir que as quatro cirurgias no pescoço que o quarterback Peyton Manning teve que se submeter nos últmos 2 anos foram consequência de uma pancada forte que Manning sofreu de defensores dos Redskins, justamente naquele ano. E apenas para piorar um pouco a situação para Williams, há relatos de que a mesma coisa aconteceu quando o mesmo trabalhava para o Buffalo Bills e o Tennessee Titans, entre 2000 e 2003.

Se Goodell continuar aplicando sua política conservadora de integridade física dos jogadores, espera-se que todos os envolvidos no caso dos Saints sejam severamente punidos (seja com suspensões, multas, perda de salários, ou tudo isso junto) e o time de New Orleans perca escolhas do(s) próximo(s) draft(s), além de sofrer uma multa tão ou mais pesada do que aquela o New England Patriots recebeu no famoso caso do "Spygate" de 2007. É quase certo que Williams sofrerá as punições mais severas por ter sido o líder do esquema, mas se as denúncias adicionais forem realmente comprovadas, poderemos ter o primeiro caso de expulsão de um membro de comissão técnica da história da NFL.

Minha opinião sobre isso é a seguinte: o que houve em New Orleans (devidamente investigado pela NFL) ultrapassou os limites do jogo duro (o que é uma marca do futebol americano, um jogo que envolve uma intensidade física enorme) e traz à tona um sistema que, além de pressupor a necessidade de machucar um adversário por dinheiro, é um péssimo exemplo para aqueles que gostam do esporte. Goodell tem a obrigação de passar uma mensagem clara de que a NFL não tolera e não tolerará atitudes como essa, pois sabe que sua imagem ficará arranhada se as punições não forem exemplares e que a NFLPA (a associação de que cuida dos interesses dos jogadores e ex-jogadores da NFL) poderá ficar mais tranquila se a integridade de seus associados puder ser preservada, o que sempre é bom na hora de se renovar o acordo trabalhista a cada 8, 9, 10 anos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário